Intervém-se, junto com a Autoridade Portuária, naqueles pontos nos quais existe a possibilidade de criar espaço público, explorando suas condições como lugar de relação e acolhida.
O porto de Malpica se destaca tanto por seu potencial pesqueiro quanto turístico, mantendo viva sua estreita relação com o núcleo urbano, com interferências contínuas entre atividades.
O âmbito do projeto se corresponde com uma importante trama entre o acesso Norte ao porto e o extremo Sudeste, que forma a saliência geográfica conhecida como Punta da Plancha.
Ainda que o espaço portuário seja um terreno plano, os pontos de enlace com as ruas da vila, mais elevadas, obrigam a intervenção nos espaços em desnível e em elementos chaves: muros e escadas existentes, buscando uma correta delimitação e convivência entre circulação rodada e pedonal.
Estabelecem-se como intervenções prioritárias a construção de um grande espaço no entorno da doca para depósito e reparação de embarcações, melhora das instalações dos banheiros e a renovação de pavimentos, mobiliário e integração da fachada marítima portuária dentro do núcleo urbano.
O projeto explora ao máximo a condição de linearidade de um porto disposto em arco, mediante um passeio na cota intermediária que percorre a escarpa em ressaltos e coroações de muros que, de certo modo, o habita. Do nada aparece ante os cidadãos o espaço dos escaladores, ninho de gaivotas e rochas ocultas, capa que contempla, sem interferir, a atividade portuária. A recuperação dos muros sobre os que se assentam as casas, muitos deles de pedra, permite a leitura da escarpa, sua imagem. Insiste-se nas possibilidades de melhora de um caso recorrente em muitas vilas marítimas da Galícia que, dada sua extensão, não admite respostas de tabula rasa: o feito de que com o tratamento dos escassos elementos que se repetem, isto é, daquelas pautas organizativas, muitas vezes ocultas e de presença descuidadas e em si mesmo não atrativas, pode-se conseguir uma beleza distinta, talvez desestruturada, mas reflexo de uma intenção direta, popular.
De um dos lugares mais emblemáticos da vila, o mirante do Murallón, se vê o arranque do novo passeio até Punta da Plancha, apoiando-se no próprio muro de pedra e a uma cota de uns 4,5 metros sobre a plataforma portuária. A Plancha se converte também em mirante e rampa de conexão com o solo. A margem da esplanada – laje para embarcações – bem orientada, passa a ser uma área de descanso e observação.
Na memória da intervenção: os muros e os cais de pedra, plataformas inclinadas, planas, lisas, sofridas e roçadas pelos barcos. Na criação de novos espaços e usos: elemento e sistema construtivo contemporâneo, o pré-fabricado de concreto, peça-espaço e superfície-linha, com os quais, em diferentes situações e em cotas distintas se intervêm, desde o solo (estrutura, pavimento, proteção), a forma e o espaço.
Projeto: 2005-2009